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Colóquio Mundos Partilhados: Diálogos críticos sobre políticas epistêmicas

17-19 de novembro de 2025 - Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Universidade Federal do Rio de Janeiro

Enquanto assistimos a intensas transformações sociopolíticas que se conectam em escala global, olhares cruzados podem trazer uma nova compreensão dos eventos, dos imaginários e das lutas em curso. Contextos europeus e latino-americanos, por exemplo, partilham uma série de processos políticos, que envolvem a consolidação da extrema direita, o recrudescimento da violência, o desmantelamento dos direitos sociais, as mobilizações populares, as lutas em torno do território, os desafios ambientais, a relação entre religião e Estado, as tensões étnicas e raciais, os movimentos migratórios, entre outros. Tais desafios instigam trabalhos etnográficos de longo prazo que, em uma abordagem comparativa, possam gerar análises mais amplas e criativas dos modos de construção de imaginários e futuros (im)possíveis.
Ao mesmo tempo, a pesquisa sólida e situada continua sendo uma condição necessária para a reflexão sobre as condições, os limites e os efeitos do próprio conhecimento antropológico nos debates sobre o futuro. Sendo a antropologia historicamente dedicada a um mundo múltiplo e em constante tensão, a tarefa de reinventar continuamente suas próprias condições de conhecimento não pode prescindir de diálogos transnacionais e interepistêmicos. No entanto, além de uma atualização da prática etnográfica, a reinvenção da antropologia acontece em um momento de questionamento de hegemonias epistêmicas, exigindo a construção de novos diálogos entre Norte e Sul Global, academia e movimentos sociais e modos de compreensão do mundo nem sempre convergentes.
Este evento dará, portanto, atenção especial aos desafios enfrentados pela antropologia e outras ciências humanas na era da reconfiguração dos sistemas de poder constitutivos da própria disciplina, incluindo os rearranjos das relações Norte-Sul na construção de análises sobre o mundo contemporâneo. Para isso, reunimos pesquisadores baseados em diferentes partes do Brasil e do mundo em torno de debates etnográficos e epistemológicos que visam contribuir para a consolidação indispensável de diálogos e parcerias transnacionais.

A ideia de “Mundos Partilhados” é concebida a partir de uma ambiguidade constitutiva — e aqui, produtiva — do termo ‘partilhar’, que remete tanto à ideia de compartilhar quanto à de dividir. Por um lado, a partilha do mundo pode ser entendida como o compartilhamento de um espaço físico e social de coexistência diante de horizontes comuns, marcados por formas de disputas e de solidariedades; é a abertura à comunhão, à reciprocidade e à imaginação de futuros comuns. Por outro lado, remete também ao traçado de linhas de fratura que segmentam e hierarquizam, distribuindo desigualmente vidas, saberes e territórios. Nesse duplo movimento, o ato de partilhar se revela como ato de solidariedade e de dissenso, de encontro e de conflito. Para a antropologia, decorre que o compartilhamento crescente dos espaços de saber, tanto no plano local quanto transnacional, tem certamente engendrado novas correntes teóricas, perspectivas epistêmicas e posicionalidades críticas. Ao mesmo tempo, essa pluralização tem nos colocado o desafio de construção de pontes que permitam trânsitos, diálogos e trocas entre perspectivas radicalmente diferentes.
Neste cenário de reconfigurações estruturais, a convocação a “diálogos críticos” não é um mero adendo, mas a própria condição de inteligibilidade e de intervenção. A criticidade aqui opera em dupla ressonância semântica: por um lado, afirma a urgência de um pensamento crítico e rigoroso, capaz de desnaturalizar as pretensões universalistas e os regimes de verdade hegemônicos que instituíram certas “partilhas” (divisões) como ordem natural. Por outro, ela alude a um momento crítico diante de crises planetárias (ecológicas, sociais, políticas, epistemológicas) que demandam uma reorientação radical de nossas ferramentas conceituais e de nossas práticas de engajamento. Trata-se de questionar as epistemologias e suas políticas inerentes, desvendando como os modos de conhecer são indissociáveis dos problemas sociais e políticos nos quais se forjam, bem como das formas de poder que constroem e sustentam diálogos nem sempre fáceis em um mundo social atravessado por tensões.
A antropologia, com sua tradição etnográfica de atenção às contradições, nuances e interpenetrações, mas também de abertura ao inesperado, oferece uma perspectiva fundamental para pensar essas tensões. Mas este colóquio não se restringe a ela. Ao reunir antropólogos e antropólogas, mas também sociólogos, artistas e ativistas, o colóquio busca explorar como diferentes regimes de saber – acadêmicos e não acadêmicos, conceituais e corporais, frios e sensíveis – se confrontam, interpelam e reconfiguram.
A aposta metodológica deste colóquio reside na construção ativa de diálogos entre perspectivas distintas. Para além da mera interdisciplinaridade, buscamos uma ecologia de práticas intelectuais onde as fronteiras entre campos de saber e as experiências vividas se tensionam produtivamente. O evento promove: (i) o encontro de intelectuais de diversas geografias localmente enraizadas e internacionalmente relacionadas; (ii) a centralidade de perspectivas e posicionalidades historicamente marginalizadas; (iii) a exploração de formas sensíveis e encarnadas de conhecimento, onde o corpo, a presença e a performance emergem como loci autônomos de produção de saber; e (iv) a reflexão sobre as alianças emergentes entre pesquisa e ativismo.
Ao promover esses encontros e confrontar diferentes sentidos da “partilha” e do “crítico”, o colóquio se propõe como um experimento político-epistêmico, um espaço de consolidação de parcerias transnacionais e interepistêmicas para a gestação de futuros comuns e plurais.

PROGRAMA

 

DIA 1 | 17/11
Audiório 91 – UERJ (Maracanã)

18:00 | Mesa de Abertura

19:00 | Epistemologias e Atitudes: tensões entre dividas morais e justiça social

Participantes: Takyiwaa Manuh (Universidade de Gana), Tonico Benites (UEMS), Tainah Santos Pereira (Mulheres Negras Decidem)

Mediação: Claudio Pinheiro (UFRJ)

 

 

DIA 2 | 18/11
Salão Nobre do Fórum de Ciência e Cultura – UFRJ (Flamengo)

 

10:00 | Superar as “divisões epistêmicas”: nacionalismos, cosmopolíticas e multiversalismos

Participantes: Bénoit Hazard (CNRS), Gustavo Lins Ribeiro (Universidad Autónoma Metropolitana – Lerma), Vera Regina Rodrigues da Silva (UNILAB)

Mediação: Vinicius Kauê Ferreira (UERJ, Brasil)

 

14:00 | A antropologia diante da violência, da guerra e da destruição

Participantes: Jean-Bernard Ouédraogo (EHESS, França), Leonardo Schiocchet (Charles University, República Tcheca), Juliana Farias (UERJ)

Mediação: Paulo Gabriel Pinto (UFF)

 

16:30 | A Universidade Necessária: novos contornos, sujeitos e epistemes

Participantes: Vera Regina Rodrigues da Silva (UNILAB), Diógenes Cariaga (UEMS), Giselle Florentino (IMDJR/UERJ)

Mediação: Lia de Mattos Rocha (UERJ)

 

 

DIA 3 | 19/11

Salão Nobre do Fórum de Ciência e Cultura – UFRJ (Flamengo)

 

 

10:00 | Epistemologias em movimento: corpo, presença e produção de saber

Participantes: Véronique Bénéï (CNRS), Cesar Hupaya (UFES, Brasil), Alexandra Alencar (UFSC) 

Mediação: Déborah Maia de Lima (McGill University)

14:00 | Além do fim do mundo: emergências climáticas e novos futuros ecológicos

Participantes: Rita Montezuma (UFF), Maurizio Esposito La Rossa (CNRS), Igor Scaramuzzi (Unicamp)

Mediação: Rodrigo Bulamah (UERJ)


16:30 |
O futuro diante do esgotamento da política: distopias e alternativas

Participantes: Riccardo Ciavolella (EHESS, França), Leticia Cesarino (UFSC), Felipe Tuxá (UFBA)

Mediação: Igor Rolemberg (UFFRJ) 

 

CLIQUE AQUI PARA O PROGRAMA DETALHADO

Local do evento

17 de novembro 
Auditório 91 – UERJ Maracanã
Rua São Francisco Xavier, 524, Maracanã, Rio de Janeiro

18 e 19 de novembro
Salão Nobre do Fórum de Ciência e Cultura Av. Rui Barbosa, 762, Flamengo, Rio de Janeiro (diferente do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ na Praia Vermelha)

Organização

Financiamento